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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Comendo da fruta que abre os olhos do conhecimento


O Brasil é uma grande país que vive deitado eternamente em berço esplêndido sob o azul do céu profundo. Talvez seja por isso que vivamos uma vida acomodada, pacata, condicionada, alienada. Pelo refrão de nosso hino nacional, se pode pensar, que o Brasil seja um paraíso. Onde vivemos em paz, tranquilidade para sempre sob a nossa bandeira verde e amarela, que tremula em nossos céus e de onde, lá do alto, se lê o nosso lema Ordem e Progresso.          


O Brasil é um paraíso. Vivemos nossa miséria de olhos tapados e quietos. Visto que temos algo que impede de ver os nossos defeitos, nada melhor poderia aparecer para o Brasil que uma serpente. Uma serpente que chegasse no pé de ouvido da primeira brasileira que passasse e dissesse: sei onde há uma árvore que lhe abrirá os olhos e fa-lhe-á entender o bem e o mal. Basta ir lá e comer sua fruta. A quem a mulher responderia:   



  Mas desta árvore disse o presidente que não podemos comer pois que se a comermos seremos deportados e perderemos a nossa cidadania e seremos expulsos do paraíso. 


Porém, a serpente astuta e boa de lábia não se calaria e abriria sua boca e convenceria a mulher a comer da fruta daquela árvore e a faria esfregar a fruta, ainda morna e úmida  nas ventas de seu homem e ele a comeria e então os dois teriam os olhos abertos, e se veriam iguais aos homens que por tanto tempo privaram os brasileiros e brasileiras da  fruta. E o Brasil viraria um frutal, onde haveria um come-come sem igual. Todo brasileiro e brasileira comendo a fruta e todo mundo ficando de olhos abertos.  


O Brasil é terra de muitas frutas. Há de tudo. Desde o cupuaçu da Amazônia que os japoneses patentearam, dizem, à pitomba, ao itaperebá, ao caju, ao limão, ao ingá, à bacaba e ao abiu. Mas nenhuma dessas frutas abririam os olhos brasílicos. Por isso os brasileiros podem comer cupuaçú e açaí à vontade. A fruta proibida é aquela que abre os olhos. E o povo não pode ter os olhos abertos. Povo tem que ter olho fechado. É uma ordem divina. E disse Deus, do fruto da árvore do conhecimento não deves comer. E proibiu ainda, a comer a fruta que nascia na árvore da vida. Essa árvore dava frutas que serviam de antídoto ao veneno da sabedoria. Deus sacana, este. E para proteger a árvore colocou um anjo com uma espada.    


O sistema de educação no Brasil proíbe aos alunos a comerem da árvore do conhecimento do bem e do mal e também da árvore da vida. A ordem vem deles. Aqueles que não querem que o povo se lhes iguale – os políticos, os designers da educação, os sacerdotes do sistema financeiro e os herdeiros dos coronéis de barranco, da borracha, do mate, da cana, do fumo, os barões do café, os reis do gado e aqueles que têm direito à celas especial nas prisões do País.   


Por isso os brasileiros excluídos do banquete da fruta, nunca ouviram falar de doutrinas como ecologia profunda, ecofeminismo, ecologia social, ecojustiça, biorregionalismo e outras. A ecologia profunda pede que se mude o foco de uma exploração antropocêntrica para uma convivência ecocêntrica. O ecofeminismo é o movimento de mulheres e homens que se saciaram  na fruta e que creditam aos machos todas as mazelas do mundo, da pobreza à exploração, das guerras à crise social, ao modelo patriarcal de dominação da mulher. Da natureza. Dos filhos. E de tudo.      


A ecologia social critica toda espécie de ordem hierárquica e de dominação quer seja de classe, raça ou gênero. Fazem isso por meio da crítica à acumulação de capital e do lucro como único valor no mundo. Já o movimento pela eco-justiça ou justiça ambiental se interessa pelas ligações que há entre a pobreza, o racismo e a dominação da natureza, seus recursos e das populações. 



E o biorregionalismo? Todo estudante nas escolas recebe informações por meio da educação ambiental de que existe algo chamado habitats naturais, espécies exóticas e que cada região do Planeta tem suas próprias espécies. Assim aprendem, mais ou menos, que o Brasil, por exemplo, não tem elefante ou canguru. Têm uma ideia razoável de que o gato é doméstico e que pertence a uma família de gatos e que entre esses gatos há onças, leopardos, tigres. Mas à vezes fica difícil para que identifiquem uma onça caso  veja uma. Chovem os exemplos de crianças que ao verem uma onça a chamam de bicho ou leão.  



O biorregionalismo quer muito mais que isso. Exige uma mudança na abordagem política e econômica convencional às regiões diferentes. Hoje mesmo no Brasil, os brasileiros que comeram a fruta e trabalham para assegurar que a maioria fique excluída, escrevem em suas revistas enormes artigos louvando a sabedoria brasileira em transformar o Brasil inteiro em um imenso sojal. E os brasileiros excluídos da fruta do conhecimento, não se perguntam se é normal e natural que a soja seja disseminada para todo o Brasil. Do Rio Grande do Sul ao Piauí. Pelo contrário, acompanham de seus barracos, ou mansões, as notícias de que os imprestáveis cerrados estão produzindo para a economia brasileira gerando o milagre: nestas terras tudo o que se plante produz superávit.  



Ecofeminismo - Em português e na maioria das línguas, mesmo aquelas que não dão muita atenção ao gênero da maioria das palavras, há palavras que exigem o feminino. São as palavras que identificam a fêmea. Pois não poderia ser de outra forma. Por exemplo, o feminino de galo é galinha. E o feminino de cavalo é égua. Quase palavras diferentes. No mundo patriarcal, onde quem manda é o homem nem a língua está isenta dos preconceitos de gênero.


Um caso grave tão bem injetado nas nossas veias é a palavra “patrimônio”. Ora patrimônio não quer dizer posse. Patrimônio são aquelas coisas materiais que o pai deixa para os filhos, filhas e descendentes como “herança”. E a palavra patrimônio tem feminino: matrimônio. Assim sendo, matrimônio deveria ser a herança que a mãe ou matriarca deixa para os seus, ou suas descendentes. As posses que a mãe deixa como herança. 

Mas, ao longo da estrada em que a cultura se formou, o homem tomou para si todo o poder da terra e decidiu que “matrimônio” de mulher – é o casamento. Por isso, em todas as civilizações machistas, o grande alvo da mulher é casar. O seu marido é seu matrimônio – ou seja patrimônio. Depois os filhos, a cozinha, a casa, a igreja. E até hoje o desvio da palavra matrimônio não foi consertado. Falamos de Patrimônio Mundial ou de Patrimônio Nacional que são heranças deixadas pela cultura, pela arte, pela natureza como herança. 

Deveriam ser Matrimônios Mundiais, Culturais e Artísticos   porque foram deixados pela arte, cultura e natureza – as três gramaticalmente femininas. E não serão femininas também em princípio e essência?  


Muita gente não sabe porque as feministas chamam os homens de chauvinistas. A resposta é: por isso mesmo. Chauvinista é aquele ser extremamente patriótico, fanático, cego, ou aquele que demonstra excessivo entusiasmo pelas glórias militares. [1] Outros dicionários acrescentam, “crença preconceituosa na superioridade de seu próprio gênero, grupo ou espécie”. Neste segundo significado, temos a palavra “gênero” no atributo do chauvinsimo. 


O homem se crê superior à mulher. O homem se autodenominou sexo forte. Criou deus. E fez deus à sua imagem. Por isso deus é macho. A mulher é sexo frágil. Platão, ninguém é perfeito, disse: “Agradeço a Deus por ter nascido grego e não bárbaro, homem livre e não escravo, homem e não mulher...” [2] Vemos aí o orgulho chauvinista de nacionalidade (grego / bárbaro), de classe (homem livre / escravo) e gênero (homem / mulher).  
 


Depois de criar deus à sua imagem, forte, macho, excludente, manipulador, irritado, invejoso, ciumento, guerreiro, o homem ainda caluniou o deus criado de ser o autor de suas leis. O homem criou muitos códigos e muitas leis. Desde o código de Hamurabi, à Lei Mosaica, Direito Romano, Islâmico, Inglês até os direitos do dia de hoje. Só pode ter sido homem quem escreveu: 


“Quando houver moça virgem, desposada com algum homem e um homem a achar na cidade e se deitar com ela,...então trareis ambos à porta da cidade e os apedrejareis, até que morram; a moça porque não gritou e o homem porque humilhou a mulher do próximo...” (Deuteronômio 22;23, 24)


Ou então a Lei do Ciúme. Se um homem se levanta de manhã e suspeita que a mulher o traiu, se deitou com outro, se contaminou com outro, ele a levará ao sacerdote no templo. Após pagar o que é devido, o sacerdote se encarrega de resolver o assunto. Primeiro ela pega água sagrada – parecido com água benta, e depois de varrer o chão do tabernáculo, pega aquele pó e joga na água. Em seguida pede que a mulher beba a mistura sem medo. Se ela for inocente, nada acontecerá. Mas se ela for culpada, a água dilacerará seu ventre, fará inchar a barriga, consumir sua coxa e trará outros consequências podendo levá-la à morte. Mas antes de morrer, ela será alvo de toda a maldade do povo, estará à disposição do julgamento e da diversão doentia de toda a população. (Números 5).    

© Jackson Lima

































[1] Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Editora Objetiva. 1a Edição. Rio de Janeiro, 2001.
[2] Durant, Will.  A História da Filosofia. Nova Cultural. São Paulo. 2000. p39

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Encontros na natureza mas evite o candiru ( Por que se chamam Vandellia cirrhosa, Vandelia sanguinea?)

Há uma série de espécies de pequenos bagres que atendem ou foram apelidados pelo nome de Vandellia. São o Vandellia balzanii, Vandellia beccarii, Vandellia cirrhosa, Vandellia plazaii e Vandellia sanguinea. Como um ótimo ex-guia de turismo da Amazônia, na região do Alto Solimões, não me pergunte por quê ou,  caso você me pergunte, sou eu quem lhe pergunto: você desconfiaria de algum motivo especial para que duas espécies de Vandelia se chamem, respectivamente, cirrhosa e sanguínea? Eu não gosto desta história de cirrose.

Bem, acrescento mais um nome para este pequeno siluriforme ou bagre. Ele é chamado também de playboy do Solimões. Esse nome é sem dúvida muito usado na Ilha de Aramaçá, perto de Tabatinga (AM), dizem que Jules Vernes, mencionou esta esquecida ilha brasileira em um de seus livros. O dito cujo silúrio tem um costume de se enfiar, penetrar no canal ou uretras humanas, ou de qualquer outro mamífero. Ele entra também em qualquer outro orifício - e eu nem estou pensando no orifício que você está pensando. Estou pensando em guelras de peixes, orelhas de animais ou gente etc. Segundo o Chuço, um senhor que hoje deve estar com uma idade boa, metade das meninas da região perderam a virgindade devido a acidentes uretrais causados pelo Vandellia.

Mas muitos homens também se esqueceram do perigo, tiraram o pinto para urinar debixo da linha d'água e de repente sentiram a investida do candirú (nome dele) que tentava subir a uretra pelo interior do pênis. Como o peixe não consegue ir muito longe, ele fica entalado. Não vai pra frente. Não retorna por causa das espinhas que se abrem quando são puxadas para fora. A vítima urra de dor. Os médicos civilizados que vem de São Paulo, Brasília, Bogotá ou Lima não estudaram nada sobre cirurgias para resgate de candiru. 

Pelo menos um médico que veio de Bogotá desmaiou quando eu levei um paciente e ele perguntou, ao ver o rapaz, brasileiro, sangrando e chorando. Que tiene él? Eu respondi: ele está com um peixe dentro do pinto. O médico não aguentou. Coloco aí a foto de um candirú papa canal urinário para que você saiba. Viu? A foto neste link. onde médicos e cientistas internacionais falam do candiru. Se quiser ler um pouco mais sobre o candiru, desta vez com uma visão de pescador vá em frente, eu fico. 


quarta-feira, 9 de outubro de 2013

As Cataratas do Iguaçu e seus ilustres visitantes: recuperando um editorial



O texto abaixo é um de dois editoriais que escrevi para a Gazeta do Iguaçu no final de 2001. Eu gostei de reencontrá-los. Pô, eu era mais maluco na época! Preciso recuperar minha maluquice. Espero que você goste: 

Editorial

As Cataratas do Iguaçu são uma catedral. Mais sagradas do que a mais sagrada catedral. Prova disso, é o domínio absoluto que as Cataratas exercem sobre todos os mortais que a visitam. Ontem foi a vez de Bill Clinton. Quando nossa reportagem pediu que o ex-presidente dos EUA, comparasse as Cataratas do Iguaçu com as Cataratas de Niágara, ele respondeu: “incomparáveis”. Isso foi dito por um norte-americano. Por um ex-presidente do país mais poderoso do mundo.

Com a exceção do trade turístico local, com exceção dos administradores do turismo local, o mundo todo reconhece a soberania incontestável das Cataratas do Iguaçu no Reino das Águas do Planeta. Por que Clinton disse que Iguaçu e Niágara são incomparáveis? Primeiro pela sua beleza. Iguaçu, a rainha, é uma Deusa natural. A natureza, nelas, reina absoluta. As Cataratas reinam absolutas. Quem quer que passe diante de sua glória, sai renovado. Aliviado. Com um grande sorriso estampado no rosto. Por quê?

Porque as Cataratas se bastam. Daí elas podem dar. Elas não necessitam que Eleanor Roosevelt, Bill Clinton, Tony Blair ou qualquer outro ocupante temporário de trono ou cadeiras presidenciais, venham dizer que são belas. Elas se bastam. Elas sabem que são belas. São as únicas. É o visitante quem tem que estar consciente de seu privilégio de render-se ao seu orvalho, seu vapor, seu arco-íris. 

E então, por que a dificuldade de vendê-las no mundo? Sem dúvida não é uma deficiência das Cataratas. É uma deficiência nossa, de todos aqueles que moramos na Terra das Cataratas e especialmente daqueles que são responsáveis pela sua divulgação. Falta-nos entender  que as Cataratas bastam-se a si mesmas. São bonitas e belas para si próprias.

Falta-nos desenvolver uma amor que queime; um amor que nos encha de um êxtase quase religioso. É a espécie de amor que os guaranis sentem pelas Cataratas quando celebram a “mandu’á porã”, a cerimônia da lembrança. Da lembrança dos tempos velhos quando as Cataratas eram consideradas (pelos incivilizados) como uma Deusa – um lugar sagrado.

É este amor que devemos recuperar. Nós, os donos da casa, primeiro. Depois o resto do mundo.  Ao contrário nos vemos hoje como uma cidade que vê as Cataratas como fonte de dinheiro. Só isso. Nós, (civilizados) só vemos dinheiro nas quedas d’água. Por isso queremos tornar as nossas Cataratas iguais as de Niágara. Sabe para quê?  Para que um dia, um outro Clinton venha e diga: não há diferença. As duas são iguais. As duas comercializadas. As duas foram prostituídas. Nas duas, a Natureza foi reduzida. Nesse dia, até a nossa “vantagem competitiva” terá se esvanecido.            


9 setembro de 2013

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Existe uma ecologia oculta






Esse foi o título do artigo principal da Revista Sophia, uma publicação da Sociedade Teosófica do Brasil. Em destaque a constatraças à grave crise ambiental que vivemos, que preservar de maneira utilitária e antropocêntrica estava ultrapassada. 
Esse foi o título do artigo principal da Revista Sophia, uma publicação da Sociedade Teosófica do Brasil. Em destaque a constatraças à grave crise ambiental que vivemos, que preservar de maneira utilitária e antropocêntrica estava ultrapassada.


O interesse da Ecologia deixou de ser unicamente preservacionista. Transcendem as questões de qualidade de vida e sobrevivência humanas.

Qualidade de vida para todos é o clamor. Para homens, mulheres, crianças, animais, plantas, répteis. Não somos mais donos do mundo. Talvez nunca fomos. É nessa linha onde estamos inseridos com a ecologia profunda, o que eu chamo de "ecoprofundeza", que leva a uma ecofilosofia, ecosofia, ecologia-espiritual, a ecopsicologia, à ecopsicologia e às ecoterapias.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Pode haver tsunami no Atlântico e que afete o Brasil?

Meu propósito aqui não é assustá-lo ou assustá-la. Mas é antes aproveitar a situação para esclarecer. Embora a costa do Brasil esteja longe do encontro das placas tectônicas da América do sul com a placa africana (mapa), nós e todos os moradores da costa africana, do caribe e até dos estados Unidos corremos o risco de ter uma megatsunami. A ameaça ná vem extamente do encontro das placas e da violência dos movimentos entre elas. O que chama a atenção de cientistas de todos os países que margeiam o Atlântico é o vulcaão la Cumbre Vieja na Ilha de La Palma, Canárias. Se este vulcão explodir, há a possibilidade de que uma face da montanha se desmorone e caia no mar. Para que você comece a pesquisar o assunto, sugiro este vídeo que tem uma animação do que aconteceria se esse vulcão explodisse e a estrutura que o segura viesse a desmoronar e ser jogada no mar. Ele - o vídeo - lhe levará a muitos outros. Interessante é que no catálogo mundial de vulcões aparece o Brasil. Isso mesmo! O vulcão brasileiro fica na Ilha de Trindade (mapa) onde em 2010 a Marina do Brasil instalou a Estação Científica da Ilha da Trindade (ECIT). A última erupção na ilha ocorreu há 50 mil anos ontem, em tempo geológico. Veja também artigo sobre a ECIT. O primeiro mapa é da USGS e o encontrei neste blog em inglês de geologia para leigos e leigas.

Proposta no ar: IPG em vez de PIB

Li recentemente aqui que executivos americanos embolsaram milhões de dólares antes da crise financeira. Me lembrei de um especialista gaúch...